segunda-feira, 23 de março de 2015

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Como ser delicado




Dentre as inúmeras questões da cena, há uma que parece cada vez mais rara em tempos de espetáculos pouco dados a experiências mais profundas: a delicadeza, a cena com delicadeza.
Ahhh.... quanto tempo que não assistia a um espetáculo capaz de mostrar o humano de maneira tão delicadamente interessante. Que bom que existe o Inventário, que bom que existe gente tão boa estudando o palhaço da maneira que ele merece.
O relação humana vira elemento e é absorvida pelo elenco em sua experiência pelas enfermarias de alguns hospitais pediátricos cariocas. Ela é apresentado com toda a sua complexidade, essa complexidade das coisas que vivemos e não damos conta, mas que é insistimos falar mesmo assim. Falar delicadamente é sem dúvida um dos grandes achados da cena teatral. Neste espetáculo a delicadeza é esperanto.




Serviço:



INVENTÁRIO - O QUE SERIA ESQUECIDO SE A GENTE NÃO CONTASSESESC Avenida Paulista
16/01 a 01/03. Sexta a domingo, às 21h30.

Direção: Andrea Jabor e Beatriz Sayad. Elenco: César Tavares, Dani Barros, Flávia Reis e Marcos Camelo Produção: Doutores da Alegria Inventário não é um espetáculo “inventado”. É um espetáculo narrado a partir do que os artistas dos Doutores da Alegria viram, viveram, lembraram, sonharam, temeram, reinventaram, inventariaram. O espetáculo, destinado à platéia adulta, é resultado de uma criteriosa pesquisa sobre o palhaço contemporâneo e sua capacidade de intervir e transformar a realidade. Depoimentos comoventes e bem humorados mostram um pouco da insólita experiência de ser palhaço em uma enfermaria pediátrica.

Não recomendado para menores de 14 anos

R$ 20,00
[inteira]
R$ 10,00
[usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino]
R$ 5,00
[trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes]



sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Rebobine Por Favor! Humanas mídias...

Eu já fiz um filme e garanto que você provavelmente já fez. Quando você pegou o celular e gravou aquela cena que você considerou única... sim meu pequeno cineasta lá estava você, fazendo um filme. Vou além, hoje em dia fazer um filme com o Windows
Movie Maker é muito simples, minha avó faz. Somos todos grandes arquivadores de cenas, memórias e momentos, não queremos largar, perder as imagens.
Em Rebobine por favor a questão não é arquivar, mas é da memória que estamos falando também. A memória do cinéfilo, a memória da cidade. Dar espaço para criar sobre a arte de maneira democrática, bom tá aí um dos grandes ganhos da tecnologia.
O filme trata de uma vídeo-locadora que esta prestes a fechar, a única locadora de VHS da cidade, condição precária dentro de uma cidade igualmente precária. Ocorre que os filmes da locadora são apagados das fitas (por motivos que não vou especificar) e a cidade toda se envolve em uma indústria de filmagem, onde as memórias sobre os filmes são os roteiros. Eu que sempre achei a tecnologia fria me vi coberta pela mais quente humanidade neste roteiro. É bom, é filme de cinéfilo, ou seja, é pra todo mundo.


terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Marolas para derrubar Tissunamis



Os dois fazem sexo — como Joseph e Bessie, uma única vez, esta que, na tabelinha do melodrama, é certeza do filho.



Quem disse foi Ismail Xaxier, em seu livro O Olhar e a Cena.
A frase esta em destaque para dar suporte a minha sugestão de política pública.
Sugiro: o melodrama como método de incentivo a natalidade.
Nada mais natural, o amor eterno, filhos fofos, a certeza de que os culpados serão punidos e quem sabe ainda ,uma herança para arrematar!Só há uma porém, os mocinhos podem descobrir que são irmãos (99% de chance).
Claro que isso não é para o Brasil, nos já aplicamos essa política. Mas para aquelas culturas que de alguma forma ainda resistem ao melodrama( será que existem e resistem?)
Bom, não sei quanto a vocês, mas me afogo todas as noites em um melodrama assistindo minha tv. E sabe, to enjoada disso. Mas é uma Tissunami , toma minha casa e quando dou por mim, a tv tem vida própria. Sim, é um péssimo hábito.
Por isso, ultimamente ando preferindo marolas. Marolas como Capitu, que me tira do eixo e me permite crer ainda em uma narrativa inteligente, em uma imagem dialética, em um espectador acordado sobre o sofá.
E que não me venham dizer que isso não é tv. Ora, a tv é uma caixa vazia, ela é o que fazemos dela e pronto!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sobre Clandestinos de João Falcão






Que João Falcão é um dos grandes nomes da cena contemporânea isso não é lá grande novidade, na verdade é afirmação muito merecida.
No entanto, ao assistir Clandestinos seu último espetáculo em cartaz no rio, ele me fez pensar como o teatro ainda é capaz de aproximar o espectador mesmo quando ele se dedica a temas tão seus.
Clandestinos, pretende tratar do universo de jovens atores que vem para o Rio de Janeiro tentar carreira e “acontecer”. Para isso, o diretor fez do seu processo texto ao iniciar uma seleção de elenco que foi amplamente divulgada e difundida por atores de todo Brasil.
No palco encena-se um pouco da história de cada ator selecionado, muito dos que não foram selecionados, um tanto do próprio Falcão e ainda pitadas de gente que sequer passou perto da seleção. Falcão capta sensações. Sensações de esperança e expectativas de dar certo e isso não é material só do teatro. Logo seu espetáculo explode em humanidade e transcende a cena. A identificação é o “acontecer” e isso é sintoma do nosso tempo.

Serviço“Clandestinos”Quinta a sábado – 21hDomingo – 19hR$20,00 - Meia entrada – R$10,00Teatro Glória - Rua do Russel, 632 – GlóriaTel – 2555 7262Classificação Etária – 14 anosLotação – 337Duração – 1h 20minFicha TécnicaTexto e Direção: João Falcão
Elenco: Cia. Instável de Teatro - Adelaide de Castro, Alejandro Claveaux, Bruno Ferraz, Chandelly Braz, Deborah Wood, Eduardo Landim, Emiliano D’Avila, Fábio Enriquez, Giselle Batista, Hugo Leão, Luana Martau, Michelle Batista, Pedro Gracindo e Renata Guida.
Assistência de Direção: João SanchesCenografia: Sérgio MarimbaFigurino : Kika LopesIluminação: Paulo DenizotDireção Musical: Ricco VianaDireção de Movimento: Duda MaiaProgramação Visual Site e Material Gráfico: Leonardo MirandaCriação e manutenção site: Alexandre BruggerAssessoria de Imprensa: Ana GaioDireção de Produção: Jô AbduRealização: Criatura Produções e Jô Abdu Produções .

domingo, 21 de dezembro de 2008

Uma carta para a apresentação


Rio de Janeiro 07 de dezembro de 2008.



Oi Márcia, tudo bem? Como anda o tempo aí em sampa? Então, a carta....
A carta funciona aqui como uma crônica. Uma crônica sobre as possibilidades de se pensar a arte via teledramaturgia, pensar um pouco como ainda podemos ou não respirar artisticamente via TV. Já adianto que a crônica vai via positivismo, sim porque se não for assim já fica muito sem graça (mesmo que no fundo eu duvide muito dessas boas possibilidades, são elas que me dão gás para empreender a pesquisa)
Essa semana eu respirei novamente, estreou Capitu de Luiz Fernando de Carvalho. Já estava esperando um tempão por essa estréia, ouvia os burburinhos do processo e a curiosidade estava forte. Daí, comecei a acompanhar a impressa e o povo já estava bichando o processo: nossa será que vai ser como A Pedra do Reino, incompreensível e com pouca audiência?
Porque incomoda tanto um diretor que pensa tv além do trivial, porque é tão inadmissível montar Machado ou Suassuna levando em consideração que o povo não é idiota?
Em uma entrevista na Folha perguntaram para Carvalho: Mas você concorda que faz parte dessa indústria? Ele respondeu: Sim, mas não concordo (com ela). Participo na contramão. É quase uma guerra santa.
A coisa esta em um nível que já se fala em Guerra Santa só pra fazer um trabalho com mais cuidado, daqui a pouco vamos falar de terrorismo artístico para justificar a exigência, por exemplo, de bons atores nas tramas.
Estamos então em um lugar pouco confortável para a arte, parece que neste território não cabe mais exigir uma estética mais apurada, algo que leve para o espectador referências dramatúrgicas diversas do realismo pragmático, exigências que interessam muito aos anunciantes do OMO e talvez menos aos próprios fazedores de tv.
Sim, porque me parece pouco provável que bons atores prefiram fazer madames do Leblon tendo como seu auge dramático em cena passar requeijão na torrada a mergulhar em Marias Safiras de Suassuna dançando a vida por Taperoá.
Há um rasgo enorme entre Luiz Fernando de Carvalho e a teledramaturgia convencional. Esse rasgo, eu acredito, não permite qualquer remendo, pelo contrário, cada vez mais esse tecido é dilacerado. Eu acho ótimo!
O que me impressiona (ainda não sei se positivamente ou negativamente) é o caráter educacional no discurso do diretor. Ele acredita que pela tv ainda é possível aproximar o espectador da literatura e defende projetos nesta linha. Me parece que ele é muito mais provocador, no sentido de mostrar o que a tv nos nega e fala sem dizer : tá vendo vocês vêem porcaria só porque eles querem. Pausa dramática. Ou será porque agente permite?
Não sei, nem pretendo responder isso na pesquisa, é uma pergunta muito grande para caber em uma dissertação de mestrado.
O que eu pretendo responder, lá em minhas páginas de suor dissertativo, é que apesar dos pesares, ainda é possível fazer tv de qualidade. Ainda é possível buscar em outras linguagens artísticas referências para se fazer um bom trabalho no suporte televisivo. Como acredito que Luiz Fernando de Carvalho concorda com meu argumento (e mesmo que não concorde, agente ainda não bateu um papo), é juntamente com sua Pedra do Reino que pretendo me embrenhar por esse tema.
Um processo que se permite ensaiar atores por dois meses em um galpão isolado em Taperoá, que desloca um mundaréu de gente do Projac para a Paraíba, que se estrutura com atores da região do agreste e que no fim das contas ainda menospreza os tão cultuados índices de audiência, bom aí tem coisa.
E coisa boa, acredito, o tal respiro que vez ou outra acontece na teledramaturgia. O tal respiro que faz crer que tem muita gente boa trabalhando muito para que esse rasgo se transforme em um buraco e do buraco em um abismo, e para abismos não tem remendo.
A carta acabava por aqui, mais aí vieram Adorno e Horkheimer e me fizeram repensar a indústria e ver que realmente falar de guerra não é exagero algum. E dando continuidade a um pensamento belicista talvez seja o caso de falar em homem bomba. Pensar em um diretor de televisão que se permite ou consegue criar imagens onde seu espectador seja ativo é tarefa para alguém que se arisca em uma dimensão comparável a fé, já que não há nada objetivo que assegure sua arte.
É um território minado, e neste sentido brincar com as minas, correr o risco da explosão é extremamente dionisíaco. Poucos são os que se arriscam em uma empreitada pelo escuro como essa, já que desta vez o público não comanda a atração. Experimenta-se até mesmo esse receptor.
Um texto que não tem ouvintes, imagens que não tem leitores atiram-se na vitrine a espera de seus espectadores (nossa, a rima ficou muito cafoninha). Não sei se esse produto possui compradores, mas o simples fato de estar exposto na vitrine alimenta sua existência e com ela todo o incômodo que pode provocar.
Por hora, essas são algumas das velhas e mesmas novidades que tenho. Nada realmente grande, mas pipocante na minha cabeça.
Agora o que realmente importa:
Aqui no rio choveu essa semana.

Depois de te conto mais novidades sobre o tempo.

Abraços,

Fernanda Areias

Uma imagem que também é norte.